terça-feira, 7 de abril de 2015

Diabetes: novidades para o tratamento são apresentadas em congressos

  Aproximadamente 13 milhões de brasileiros sofrem de diabetes, cujo dia mundial é lembrado nesta sexta-feira. Até sábado, médicos de todo o mundo estarão reunidos no 1º Congresso Regional de Diabetes do Rio de Janeiro, no Royal Tulip, em São Conrado, para debater os avanços e as últimas novidades relacionadas ao tratamento da doença. Entre os destaques, estão uma insulina de longa duração, hipoglicemiantes orais que auxiliam na perda de peso e um creme que ajuda na cicatrização de feridas em diabéticos.
Segundo a endocrinologista Anna Gabriela Fuks, a nova insulina, recém-chegada ao mercado brasileiro, tem maior durabilidade e ação contínua. Assim, o paciente pode fazer apenas uma aplicação por dia, com total flexibilidade de horários, com riscos comprovadamente mais baixos de ter uma hipoglicemia (queda de glicose no sangue). Até então, as insulinas tinham duração menor, o que obrigava várias aplicações diárias em horários rigorosos.
  Já o hipoglicemiante (medicamento que baixa a glicose no sangue) apresentado no congresso é o primeiro com ação renal. A droga induz a excreção de açúcar pela urina e ainda ajuda na perda de peso.

   Outros hipoglicemiantes aumentam a tendência ao ganho de peso, o que é ruim, já que a obesidade está associada ao diabetes — diz Anna Gabriela , presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes do Rio, que promove o congresso.
   Outra novidade é um creme à base de insulina que acelera a cicatrização em diabéticos. O produto desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) já foi negociado para ser produzido para o mercado. A dificuldade de cicatrizar expõe o diabético a infecções e amputações.
  O creme deve ser aplicado sobre a ferida, uma vez ao dia. O diabético passa a cicatrizar como uma pessoa normal — explica o endocrinologista Mario Saad, professor e pesquisador da Unicamp. 

O QUE É A DIABETES?

 Diabetes Mellitus é uma doença do metabolismo da glicose causada pela falta ou má absorção de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas e cuja função é quebrar as moléculas de glicose para transformá-las em energia a fim de que seja aproveitada por todas as células. A ausência total ou parcial desse hormônio interfere não só na queima do açúcar como na sua transformação em outras substâncias (proteínas, músculos e gordura).
  Na verdade, não se trata de uma doença única, mas de um conjunto de doenças com uma característica em comum: aumento da concentração de glicose no sangue provocado por duas diferentes situações:

 a) Diabetes tipo I – o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina. A instalação da doença ocorre mais na infância e adolescência e é insulinodependente, isto é, exige a aplicação de injeções diárias de insulina;

  b) Diabetes tipo II – as células são resistentes à ação da insulina. A incidência da doença que pode não ser insulinodependente, em geral, acomete as pessoas depois dos 40 anos de idade;

 c) Diabetes gestacional – ocorre durante a gravidez e, na maior parte dos casos, é provocado pelo aumento excessivo de peso da mãe;

REFLEXÕES SOBRE A SAÚDE

  Saúde não é apenas a vida sem doença. O conceito de doença não é simples como parece, porque faz parte de um contexto social em que os médicos criam teorias, descrevem sinais e sintomas e métodos de tratamento; os pacientes procuram explicações e soluções para os males dos quais padecem; e as autoridades estudam políticas para reduzir o impacto na economia e na saúde pública.
  A história da medicina mostra que a intersecção desses interesses tem-se alterado no decorrer dos séculos.
  Numa análise das publicações dos primeiros números da revista The New England Journal of Medicine, um grupo de Harvard reuniu artigos publicados há 200 anos sobre entidades estranhas como: apoplexia, neurastenia, cegueira e fraturas ósseas em pessoas que receberam o impacto do vento de balas de canhão que explodiram longe delas. Há descrições de morte por combustão espontânea em bebedores de conhaque, por ingestão de água gelada ou por febres de vários tipos em pessoas que nunca tiveram febre.
  Em 1912, um editorial da revista defende a eugenia: “Talvez em 1993, quando todas as doenças passíveis de prevenção tiverem sido erradicadas, quando a natureza e a cura do câncer tiverem sido descobertas e, quando medidas eugênicas tiverem colaborado com a evolução para eliminar os incapazes, nossos sucessores olharão para estas páginas com ar de superioridade”.
  Ainda em 1912, a revista publicou as primeiras preocupações com o surgimento de “pessoas com hábitos de vida extremamente indolentes, que não andam mais do que os passos necessários para ir do escritório ao elevador, do elevador para a sala de jantar ou para o quarto e de volta para o automóvel”.
  Durante o século 20, enfermidades cardiovasculares, câncer, diabetes e outras condições crônicas se tornaram prevalentes, embora ainda emergissem enfermidades infecciosas: encefalite equina, kuru, ebola, Aids.
  Em 2005, foi levantada a hipótese de que a epidemia de obesidade prevista em 1912 reduzirá a expectativa de vida da população americana, pela primeira vez, nos últimos cem anos.
  Qualquer tentativa de definir doença precisa levar em conta a complexidade.
  Doenças afetam determinados grupos, estão associadas a fatores de risco e provocam sinais e sintomas característicos. Elas geram interesses que envolvem pacientes, profissionais de saúde e as instituições em que trabalham e as fontes pagadoras.
  Mais do que um problema pessoal, doença é um processo antes de tudo social.
  Enfermidades novas estão associadas a causas novas (acidentes de moto, poluição), novos comportamentos (fumo, abuso de drogas) e mesmo à alteração da história natural por meio do tratamento (diabetes, aids, infarto).
  Mudanças sociais e ambientais aumentaram a prevalência de enfermidades raras no passado: infarto do miocárdio, câncer de pulmão, obesidade grave.
  Novos critérios e métodos de diagnóstico permitiram evidenciar outras, que não eram identificadas: depressão, síndrome metabólica.
  Transformações na sociedade redefinem o que é doença. Homossexualidade e masturbação deixaram de sê-lo. Fibromialgia e síndrome da fadiga crônica passaram a ser consideradas, graças à pressão das associações de pacientes.
  Apesar dessas modificações, uma característica se mantém desde os primórdios da humanidade: a influência nefasta das disparidades sociais no acesso aos serviços de saúde, fenômeno ubíquo em todas as sociedades.
  Doenças são processos dinâmicos que coevoluem com a medicina. Quando as vacinas e os antibióticos começaram a combater as infecções, aumentou a incidência de ataques cardíacos, derrames cerebrais e diabetes.
  Assim que tivermos sucesso no controle dessas enfermidades, haverá aumento na prevalência dos transtornos neuropsiquiátricos, desafio que a medicina está despreparada para enfrentar.
  Infelizmente, os sistemas de saúde estão mais preparados para as doenças do passado, não para lidar com aquelas do presente ou do futuro.
Fontes:http://drauziovarella.com.br/